Desenvolvimento Humano – Pesquisa IDH – 2020
(E porque o Brasil regride de forma continua no mundo)
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de “desenvolvimento humano“, ou seja como cada país “trata” seus cidadãos. O estudo é de responsabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A estatística é composta a partir de dados de expectativa de vida saudável ao nascer, acesso à educação e recursos financeiros para um nível de vida aceitável, levantados em 189 países participantes. A pesquisa atual foi divulgada nos últimos dias e contém dados de 2019, ou seja, todos os levantamentos foram realizados antes da pandemia.
A pesquisa completa pode ser encontrada no site do PNUD e a posição alcançada por alguns países, com ênfases na região sul americana e comparada com a última pesquisa, se encontra na tabela abaixo:
IDH 2018 | IDH 2019 | |||||
1. | Noruega | 0,954 | 1. | 0,957 | = | |
4. | Alemanha | 0,959 | 6. | 0,947 | -2 | |
16. | USA | 0,920 | 17. | 0,926 | -1 | |
42. | Chile | 0,847 | 43. | 0,851 | -1 | |
48. | Argentina | 0,830 | 46. | 0,845 | +2 | |
57. | Uruguai | 0,808 | 55. | 0,817 | +2 | |
72. | Cuba | 0,778 | 70. | 0,783 | +2 | |
79. | Brasil | 0,761 | 84. | 0,765 | -5 | |
79. | Colômbia | 0,761 | 83. | 0,767 | -4 | |
82. | Peru | 0,759 | 79. | 0,777 | +3 | |
87. | Equador | 0,758 | 86. | 0,759 | +1 | |
96. | Venezuela | 0,726 | 113. | 0,711 | -17 | |
98. | Paraguai | 0,724 | 102. | 0,728 | -4 | |
114. | Bolívia | 0,703 | 107. | 0,718 | +7 |
A pesquisa atual permite algumas conclusões:
– O país que mais evoluiu positivamente em desenvolvimento humano é a China, ganhando 12 posições, passando de 97 para 85. A perspectiva é de um avanço maior ainda na próxima pesquisa, quando os efeitos da pandemia serão considerados. O outro país muito populoso, a Índia, se sai muito pior por ser uma sociedade organizada de forma arcaica em “castas” e permanece estagnada na posição 131.
– A queda de 17 posições da Venezuela, mostra os efeitos de uma governança na contramão das necessidades modernas.
– A ONU está ajustando o índice IDH transformando-o no PIDH, onde a letra P significa Planetary pressures-adjusted; ou seja, mede como cada país age em questões como poluição ambiental, emissões específicas de carbono e uso não totalmente correto de outros recursos naturais. A interpretação permite que um determinado país faça a seguinte reflexão: “com que grau de prejuízo para o meio ambiente estamos conseguindo o posicionamento no IDH”. E possa em consequência implementar mudanças de posicionamento.
Neste sentido se pode observar que vários países perdem inúmeras posições no índice ajustado (entre 40 e 90 cada um deles aproximadamente) , tais como os árabes (Qatar, Barein, Kuwait), Cingapura, USA e Canada, mostrando sua despreocupação com o cuidado do meio ambiente.
Fatores que prejudicam o Brasil de forma continua.
Quando o IDH se ajusta com os índices de desigualdade social, o país cai mais 23 posições no ranking e se aproxima ao final da lista de países que integram o quadrante de “alto desenvolvimento humano. ” Ao se considerar a desigualdade social, se evita comparações feitas pela “média” em países de alta desigualdade social, que sempre distorcem a realidade. Num setor/empresa onde uma pessoa ganha 20.000, duas ganham 10.000 cada uma e dez ganham 1.500 cada uma, não é verdade que cada uma delas vive com 4.230 dinheiros.
Quando a primeira pesquisa foi realizada em 1975, o Brasil ocupava a posição 73, A posição atual em 84, mostra que o país, regride de forma constante quando comparado com os outros. Analisando as causas que provocam essa “involução”, em www.sociedademaisjusta.com.br defendemos que as principais sãos:
- Modelo de Desenvolvimento Económico baseado em commodities, sem valor agregado, focado principalmente no negócio agropecuário e minérios e propicio a causar desigualdade social. Em áreas de negócios de médio e alto valor agregado, praticamente nenhum desenvolvimento próprio e os negócios quase totalmente em mãos do capital estrangeiro. Tudo em conjunto leva a não criação de melhores empregos e a prática de margens comerciais de exportação reduzidas.
- Questões sociais tratadas (ou negligenciadas) pelos sucessivos governos ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos do mundo, sem prioridades para Educação, Saúde e Cultura.
- Gestão de governo orientada para a manutenção/crescimento da desigualdade social, com concentração de renda sempre crescente, práticas salariais diferenciadas em limites absurdos e baixa taxação da verdadeira renda (aquele aplicado em operações financeiras).
- Máquina pública de tamanho aproximado ao dobro do necessário, pagando salários maiores que na área privada, concedendo benefícios muitas vezes indecentes e com pouca ou nenhuma cobrança de desempenho.
- Adoção de valores errados pela sociedade:
- Preconceitos raciais contra negros, mulheres, nordestinos, entre outros.
- Corrupção transformada em prática comum e utilizada com sucesso, principalmente nos níveis alto e médio alto da sociedade por empresários, políticos e governantes.
- Pouquíssima valorização do trabalho, o que gera falta de orgulho de se ter uma profissão, principalmente operacional. Tudo o que for feito com pouco esforce é preferido. Exemplo são as altas demandas pelas “carreiras” de servidor público e político.
- Ainda em muitos casos falta de comprometimento com pagamentos, prazos, entregas erradas ou cuidados com a qualidade.
- Aceitação fácil pela população de qualquer condição de vida oferecida (salários baixos, infraestrutura ineficiente, impostos sem retorno, etc.), com baixíssimo índice de reclamações estruturadas pela sociedade.
Luis Alberto Piemonte
Fontes:
– Relatório IDH 2020 do PNUD-ONU
– Livro “É possível construir uma sociedade mais justa? ”
– Blog www.sociedademaisjusta.com.br