O que a Alemanha tem a aprender da Dinamarca
É conhecido que a Alemanha se encontra entre o grupo de países que vem gerenciando corretamente a pandemia, o que lhes permitiu retomar às aulas nas últimas duas semanas. Não entanto, a revista Spiegel foi visitar a experiência da Dinamarca no mesmo assunto, procurando entender os resultados ainda melhores lá obtidos. A Dinamarca, dirigida pela primeira Ministra Mette Frederiksen do partido Social Democrata, combina o sistema monárquico constitucional com uma moderna democracia. Além de ter um dos maiores padrões de qualidade de vida, também é um dos países menos desiguais do mundo.
Refletindo o alto nível de consciência de governantes e governados, onde os segundos confiam bastante nos primeiros, no início da pandemia a primeira ministra fez a seguinte declaração:
“Para termos sucesso precisamos agir rápido e firmemente. Para superar a situação, teremos de andar no fio da navalha. ”
Decretou o “Lockdown” em 14 de março, quando a pandemia começava e iniciou a reabertura da economia somente duas semanas depois. Já na Páscoa, conseguiu reabrir as aulas, ou seja, menos de um mês depois e quase um mês antes do que na Alemanha. Contabiliza atualmente um terço dos infetados e óbitos quando comparado à Suíça, que é um país similar em número de habitantes, padrão de vida e outros atributos similares. E a diferença entre ambos se remete a uma melhor gestão. Até o presente o andamento dos contágios e óbitos se mantém sob controle e em declínio, após a reabertura.
Alguns pesquisadores já analisam os principais fatores que permitiram este desempenho, tendo chegando resumidamente aos seguintes:
- População de alto nível cultural, muito disciplinada e um dos poucos países que ainda restam, onde a relação de confiança entre pessoas é um valor destacado.
- Governo de inspiração social, que investe tradicionalmente muito pesado em saúde e educação.
- A Saúde é pública, gratuita e de alto nível. Saúde privada existe minimamente.
- Desigualdade pequena a nível mundial e relativos baixos índices demográficos.
- Sob a influência climática, muita disposição a passar grande parte do tempo em casa.
- As pessoas encontram a sensação de felicidade em coisas mínimas e corriqueiras, que definem com a palavra hygge, que pode significar bem-estar, contentamento, sociabilidade, segurança e tranquilidade (entre outros). Está conectado a um estilo de vida minimamente consumista.
- Contato físico mínimo. A saudação com beijos somente acontece com familiares, não são comuns abraços nem o costume de dar as mãos.
Sendo estes alguns aspectos gerais do comportamento social, especificamente no que se refere a parte educacional, as principais estratégias e ações implementadas pelo país foram:
- Muita organização e planejamento. Um plano genérico para retorno a aula foi elaborada como regra geral. Logo cada escola implementa o seu conforme sua realidade.
- Não sobrecarregar as famílias: creches e jardins abriram rapidamente.
- Convencer aos pais a confiar: todas as famílias que tem crianças na escola, receberam manuais de comportamento para pais e filhos.
- Às crianças lhes foi delegada responsabilidade comportamental: lavagem de mãos a cada duas horas, distanciamento de dois metros, etc. O controle nas escolas comprovou o sucesso de comportamento das crianças.
- Agrupamento de alunos foi planejado (em pequenos grupos) e seguido rigorosamente: para saber em caso de contágio, como gerenciar o grupo em contato
- Foram selecionados e comunicados os tipos de brincadeiras permitidas durante as pausas: naturalmente eliminando temporariamente as que apresentavam contato físico.
- Separação dos níveis educacionais por idades em horários diferentes.
- Regulamento especial para higiene: salas, portas, pisos, janelas, etc
- Disponibilização de suporte médico no local.
Lay Out de sala de aula no ensino básico na pandemia
Entrada a escola
Fora a parte técnica tratada no artigo, resulta impossível não refletir quanto alguns pontos que são muito caros ao gênero humano:
Na medida em que o nível cultural cresce, ele se realimenta constantemente. Somente assim é possível justificar como alguém que está bem posicionado em determinado tema, como a Alemanha neste caso da gestão durante a pandemia, vai ainda a buscar referência de outro todavia melhor e a ele se refere com admiração. No outro extremo isso também se confirma, com a ignorância relevando e atraindo mais ignorância, como a situação que vivemos localmente.
As estatísticas sobre a pandemia começam a refletir como cada sociedade valoriza a vida e dela cuida. Governos de orientação neoliberal caminham para ocupar os primeiros lugares nas estatísticas de fracassos em quantidade de contágios e óbitos, enquanto que aqueles países com objetivos de caráter social mais avançados se saem melhor no cuidado de suas populações.
Fonte: Der Spiegel 31/05/2020